Presidente do país apresentará projeto para incluir entre as competências das Forças Armadas a ‘luta contra o narcotráfico e o crime organizado’
Diante de uma força crescente das facções brasileiras, o presidente do Paraguai, Mario Abdo Benítez, quer começar a usar as Forças Armadas do país para enfrentar o narcotráfico e o crime organizado.
A fuga de um líder do Comando Vermelho (CV) nesta semana levou à queda do ministro da Justiça, Julio Javier Ríos, que vinha sofrendo desgaste desde junho, diante de rebeliões organizadas pelo Primeiro Comando da Capital (PCC) em cadeias paraguaias.
Agora, o novo ministro, Eber Ovelar, quer acelerar o processo para extradição de presos brasileiros considerados de alta periculosidade.
Nesta quinta-feira (12), o presidente paraguaio disse que apresentará na próxima semana ao Congresso um projeto de emenda à constituição para “incluir entre as competências das Forças Armadas a luta contra o narcotráfico e o crime organizado”.
Fuga de Samura, um dos líderes do Comando Vermelho
A crise no país se intensificou na quarta-feira, quando um grupo armado atacou um comboio penitenciário e libertou Jorge Teófilo Samudio, o Samura, tido como um dos líderes do Comando Vermelho no Paraguai.
O ataque terminou com a morte do agente Félix Ferrari, atingido por um tiro, e causou reação no país e nesta quinta-feira, dez homens foram detidos sob a suspeita de envolvimento na emboscada, mas Samura continua foragido.
O episódio levou o então ministro da Justiça, Julio Javier Ríos, a pedir demissão. “Ante os graves fatos registrados no dia de hoje (quarta) na Costanera, tomei a decisão de aceitar a renúncia do ministro JJ Ríos”, escreveu o presidente em uma postagem no Twitter.
A pressão sobre Ríos era crescente desde junho, quando uma rebelião do PCC em duas cadeias terminou com dez mortes e 17 feridos. A isso se somou também a fuga de três membros da mesma facção de uma penitenciária no sul do país, ocasião na qual um agente penitenciário foi feito refém.
Presidente reconhece corrupção
A procuradoria anunciou que investigará se houve cumplicidade das instituições penitenciárias na fuga de Samura. Um procurador reconheceu que o protocolo para transferência de presos perigosos não foi seguido e o homem foi transportado como um detento comum.
Samura estava detido desde outubro de 2018, depois de ter sido capturado em operação contra o tráfico.
Na quinta-feira, Benítez disse reconhecer que houve corrupção no caso. “Na minha opinião, havia planejamento e cumplicidade de alguns setores. Havia corrupção e dinheiro envolvido. Isso transitou entre autoridades”, disse. “Sabíamos que o fato de tomarmos decisões drásticas, de expulsá-los, de lutar agressivamente contra esse flagelo, ia criar muitos adversários. Isso é parte de uma guerra frontal.”
O novo ministro, Eber Ovelar, disse que trabalhará para acelerar extradições. “Temos convênios pelo Mercosul, mas infelizmente legislações internas impõem objeções para um trâmite rápido de extradição e expulsão.”
Ovelar pretende, em 15 dias, apresentar dois projetos com intuito de modificar o Código Penal e permitir que juízes possam proferir sentenças rápidas. “Para que não tenhamos mais nas ruas infratores reincidentes.”(R7)