No rastro de apreensões recordes de drogas nos portos, policiais procuram casal que enviou cerca de 4 toneladas de cocaína à Europa em apenas dois meses
Do casamento nasceu uma carreira profícua no tráfico de drogas. Karine Campos, natural de Mato Grosso do Sul, tinha o contato de produtores de cocaína na Bolívia. Marcelo Mendes Ferreira, da Bahia, sabia o caminho para os distribuidores do interior do estado. Era a união perfeita que ligava as duas pontas no negócio do pó. Em 2009, quando foram presos, os dois chefiavam um grupo pequeno que agia em Alagoinhas e Camaçari. O transporte do entorpecente era feito por meio de “mulas” em ônibus de linha ou carros velhos. Acabaram soltos em menos de seis meses. Dez anos depois, ambos voltariam a entrar no radar das autoridades, desta vez como uma das maiores quadrilhas do país nesse negócio, com atuação nos portos de Santos, Paranaguá, Navegantes, Itajaí e Salvador.
Principais alvos da Operação Alba Vírus, da Polícia Federal, no fim de agosto, Karine e Marcelo conseguiram escapar – a mesma sorte não tiveram as outras doze pessoas que pertenciam à quadrilha, entre elas Sandra de Oliveira, mãe de Karine. O casal é acusado de liderar um esquema sofisticado, com duas empresas de logística, trinta caminhões e uma importadora em Madri, na Espanha, que recebia a mercadoria. A gangue adquiria ou desviava cargas como carne, ardósia e amianto para disfarçar o principal item de exportação: tabletes de cocaína com mais de 95% de pureza.
Na prisão realizada em 2009, a quadrilha foi pega com 5 quilos de cocaína, cinco carros e 3 300 reais. Na ocasião, acabaram também na cadeia a mãe, o pai e a irmã de Marcelo. Desta vez, segundo a PF, o casal escapou por um golpe de sorte, já que nem teve tempo de sumir com os 31 milhões de reais achados em endereços ligados ao esquema. Também foram localizados dez carros de luxo, entre Land Rovers e BMWs, vinte caminhões, uma lancha e imóveis avaliados em 25 milhões de reais – entre eles, uma fazenda de 1.500 hectares com 800 cabeças de gado em Campo Grande.
A ascensão da família no mundo do crime acompanhou o crescimento acelerado do negócio do pó na última década. Em 2018, a PF e a Receita bateram o recorde de apreensão de cocaína nos portos — 32,3 toneladas. Neste ano, já superaram a marca histórica: de janeiro a agosto, foram interceptadas mais de 33,6 toneladas.(Veja)