Foto ilustrativa
Há uma máxima na medicina de que todo o médico ortopedista é grosso, truculento e bruto. Não é função para pessoas sensíveis e delicadas. Não se trata de nenhum demérito à especialidade, mas um pré-requisito até para um bom ortopedista. Foi exatamente esta a especialidade que o acadêmico da Gama Filho do Rio, Luiz Henrique Mandetta, escolheu para seguir a sua carreira. Nos últimos dias ele tem exerceu com perfeição o papel truculento nas relações que emanavam a sua fonte de poder. Nunca um brasileiro jogou fora uma oportunidade histórica por puro egocentrismo e a incapacidade de perceber que parte da bajulação que recebia tinha um objetivo único: ferrar o seu chefe, constranger aquele que o ungiu ao cargo mais importante da saúde no Brasil. Por ter tido dois mandatos de deputado e por ter tido duas campanhas financiadas por patrocinadores, que depois viraram fornecedores do próprio Ministério sem ter licitação, não se pode dizer que Mandetta foi um inocente útil na mão de uma oposição velada, e por parte da mídia que quer implodir a popularidade de Bolsonaro. O certo é que o ministro foi inábil, partiu para o confronto, acreditando que em plena crise ninguém seria capaz de exonerá-lo. O apoio que recebeu de colegas e até da turma verde-amarela do Palácio se esfacelou por pura deslealdade. Faltou humildade a Mandetta, faltou perceber que ele não era mais detentor de um mandato, no qual teria imunidade por fazer e desfazer ao bel prazer. Ele estava preso a uma cadeia de comando, a uma delegação de poderes, a uma hierarquia que um dia o nomeou e, como falamos antes, o ungiu ao cargo mais alto da saúde do país. E o que ele fez? Passou os últimos dias, destruindo os tênues fios que ainda o sustentava. Como um médico, um brasileiro, um pseudo apaixonado pela ciência, joga fora a maior oportunidade de sua vida por simples orgulho? Por vaidade. Ele não poderia ter usado o seu charme para convencer o presidente dos seus pontos de vista? Não poderia usar a sua eloquência para equilibrar os ritos do poder? Por que ser irônico? Por que se aliar a inimigos? Será que o cansaço e o esgotamento físico levou um tarimbado homem público a perder o dom do diálogo? Mandetta cometeu todos os pecados que um ocupante de uma função de confiança não deveria cometer. Desafiou publicamente o chefe. Foi desleal com os colegas que enfrentaram o presidente e avalizaram sua permanência. Foi desleal com o seu currículo, jogando fora o juramento de Hipócrates, pilotando o maior plano de emergência de saúde da história da humanidade. Ele vai sair do Governo e vai se abrigar em São Paulo ou em Goiás, atrás de uma trincheira nitidamente de oposição. Será julgado pela história não pela sua capacidade de tentar acertar, mas de não ter a humildade e o jogo de cintura para permanecer em uma função que o destino lhe deu e que, por burrice política, deixou escapar pelas mãos. A história será implacável, mas o carimbo de traidor e sobretudo de ingrato está fixado em seu currículo. Um ministro que durante semanas fritou o seu próprio presidente e que foi incapaz de perceber que estava fazendo o jogo de uma oposição inconformada de ter no Palácio do Planalto um homem disposto a quebrar paradigmas, acabar com privilégios e que, pela primeira vez, deu carta branca e porteira fechada a todos os seus ministros. Infelizmente, no caso do ortopedista Luiz Henrique Mandetta, ele não soube usar. Cláudio Magnavita. Diretor de Redação do Correio da Manhã
Publicado originalmente no Correio da Manhã
jco