Além do movimento de redução de taxas devido ao coronavírus, o PIB brasileiro de 2019 foi frustrante
O efeito global do fechamento, mesmo que temporário, de fábricas de componentes na China, que abastecem todo o mundo, é incomensurável. Mas sabe-se que deve ser grande, mesmo que voltem a produzir em breve. Há muitas notícias de paralisação de linhas de montagem, embora as empresas nunca informem ao certo a sua situação, por uma questão estratégica. Mas é claro que há problemas em eletroeletrônicos, no setor automobilístico, e assim por diante, devido à conversão da China na grande fábrica mundial de peças, principalmente eletrônicas. A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) traçou cenários para o PIB mundial e, no melhor deles, reduziu a projeção de crescimento em meio ponto percentual, para 2,4%. Diante do risco de forte tempestade, o banco central americano, o Federal Reserve, Fed, realizou na terça reunião extraordinária e cortou os juros básicos em 0,5 ponto, fixando a taxa no intervalo entre 1% e 1,25%. Mercados caíram devido ao susto, por suspeitarem que os americanos saberiam que o problema seria mais grave do que parece. Os BCs são culturalmente cautelosos, mas não podem deixar de reagir a uma probabilidade dessas. A epidemia do coronavírus na China está retrocedendo — há mais pacientes curados do que novos doentes. As perspectivas parecem boas. Mas levará algum tempo até as cadeias globais de suprimento e de comércio voltarem a operar a plena carga.O anúncio do corte dos juros pelo Fed — Austrália e Malásia já haviam feito o mesmo — coincide com a divulgação pelo IBGE do frustrante crescimento do PIB brasileiro em 2019, de apenas 1,1%, o mais fraco em três anos, todos na mesma faixa. Que a economia não ganhava tração, já havia sido detectado. Por isso, ainda há uma população de quase 12 milhões sem emprego.Se já existiriam pressões para o Banco Central fazer mais um corte na Selic de 4,25% na próxima reunião do Copom, nos dias 17 e 18, a iniciativa do Fed torna quase inevitável o BC seguir em frente no afrouxamento da política monetária. Não só pela China, mas pela lerdeza na reação do setor produtivo interno. Após o fechamento do mercado na terça, dia em que o Fed reduziu os juros, o BC emitiu nota para informar que a autoridade monetária “monitora atentamente os impactos do surto de coronavírus nas condições financeiras e na economia brasileira”. Tradução feita por analistas: vem mais um corte na Selic. Há um problema de queda de produção, por falta de componentes chineses, que nenhum corte de juros resolve. Mas, no caso da economia brasileira, mesmo sem coronavírus, a lentidão com que a produção reage aos estímulos monetários merece de fato uma atenção especial do BC.