EDITORIAL DO JORNAL O GLOBO – Veto de Bolsonaro reacende debate sobre Orçamento

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Em vez de se chocarem em torno de de uma parcela dos gastos, políticos deveriam acabar com as vinculações

A confusão, uma das características do governo Bolsonaro, tomou conta da sanção do Orçamento deste ano, com a decisão do presidente de vetar na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) dispositivo incluído no Congresso pelo qual as emendas feitas pelo relator do Orçamento e nas comissões também serão de execução obrigatória, como as emendas individuais.Mas o que está mesmo em questão neste veto, a ser votado hoje, é o princípio do “Orçamento impositivo”, inscrito na Constituição em 2015, que determina ao Executivo executar aquela despesa apresentada e aprovada no Congresso.O mesmo acontece nas economias e democracias desenvolvidas, como na Grã-Bretanha e nos Estados Unidos, em que debater e aprovar o Orçamento, assim como acompanhar a sua execução, são a tarefa mais importante do trabalho cotidiano do Legislativo, há séculos.No Brasil republicano, os surtos de autoritarismo e a sucessão de crises econômicas, que por diversas vezes pulverizaram a moeda nacional, relegaram a montagem do Orçamento a segundo plano. Nos ciclos autoritários, porque este era assunto reservado ao Executivo; e, nas crises, a inflação ajudava a tornar as cifras orçamentárias uma ficção.Infelizmente, a função essencial do Congresso de discutir as prioridades para as despesas públicas nunca foi levada a sério, por essas heranças históricas.O orçamento impositivo, na verdade, pode ser o início da construção de um relacionamento maduro entre Executivo e Legislativo. Deixando-se para trás o toma lá dá cá em que o governo de turno costumava cobrar apoio político daquele que beneficiava na liberação de dinheiro do Tesouro.O choque entre o governo Bolsonaro e parte do Congresso, se tem importância política, pouco ou nada representa de concreto no total do Orçamento.Os R$ 30 bilhões em jogo neste choque são ínfimos dentro de um total de despesas orçadas para este ano de R$ 1,6 trilhão.Na verdade, o problema grave do Orçamento é que, por força das vinculações estabelecidas por lei, 94% de todas as despesas da União têm destinação predefinida: Previdência, salários do funcionalismo, educação e saúde. Briga-se em Brasília por migalhas.O presidente Bolsonaro, quando era deputado, elogiava o Orçamento impositivo, para o Congresso se livrar do jugo do Executivo. Agora, age de outra forma. O ministro Augusto Heleno, do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), chegou a dizer que parlamentares fazem chantagens com o Planalto.Por sua vez, o ministro da Economia, Paulo Guedes, é veemente defensor do fim das vinculações, para que os políticos decidam sobre o destino do dinheiro dos impostos. “Mais Brasil, menos Brasília” é seu lema.Uma rusga conjuntural piora o relacionamento, que nunca foi bom, entre Planalto e Congresso. Deveriam todos trabalhar para a aprovação da desvinculação total do Orçamento.

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