Ex-braço político do IRA é mais votado na Irlanda, indica contagem parcial

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O partido nacionalista Sinn Fein, ex-braço político do IRA, é o mais votado nas eleições legislativas da Irlanda, segundo resultados da primeira fase da apuração. Com 24,5% dos votos, a legenda ainda precisará negociar com os demais partidos a formação de um governo de coalizão, já que nenhuma das forças políticas conquistaram a maioria necessária de votos para liderar o Parlamento.

Os números, contudo, representam uma conquista histórica para o Sinn Fein. A líder do partido, Mary Lou McDonald, descreveu o resultado como “uma espécie de revolução nas urnas”.

A legenda nacionalista, que já foi vinculada ao IRA, organização paramilitar oposta à presença britânica na Irlanda do Norte, se focou nos últimos anos em reformar sua plataforma e transformá-la em uma agenda política social-democrata.

A unificação da República da Irlanda com a Irlanda do Norte ainda é uma das principais bandeiras do partido, mas o Sinn Fein também adotou uma plataforma socialmente liberal, perdendo alguns apoiadores conservadores, mas conquistando muito mais por suas posições sobre o casamento gay e o aborto. Isso, por sua vez, fez com que a opção se tornasse mais atraente para os eleitores de esquerda.

Resultados

Segundo a primeira projeção de resultados, os dois tradicionais partidos de centro-direita do país, o Fianna Fail (FF) e o Fine Gael (FG), que há quase um século se alternam no governo, ficaram em segundo e terceiro lugar. Atualmente no poder, o FF teria obtido 22% dos votos, enquanto o FG ficou com 21%.

Devido ao complexo sistema de contagem de votos da Irlanda, a relação de forças oficial só será conhecida quando a apuração tiver terminado, o que pode durar vários dias. No país, os eleitores não votam em uma lista determinada, mas elaboram a sua própria, classificando os candidatos por ordem de preferência.

Além disso, o sistema proporcional de voto transferível da Irlanda favorece os partidos que apresentam mais candidatos. O Sinn Fein apresentou apenas 42 candidatos, ou seja, duas vezes menos que os grandes partidos centristas.

Se os resultados iniciais forem confirmados, o Sinn Fein deverá deter menos assentos no Parlamento do que os dois outros partidos. Mesmo assim, o partido poderá reivindicar um lugar na mesa de negociações.

Mary Lou McDonald, inclusive, já reivindicou seu direito de tentar formar um governo. Tanto o Fianna Fail quanto o Fine Gael, contudo, descartaram até agora formar uma coalizão com o Sinn Fein, devido à sua ligação com o IRA.

O atual primeiro-ministro, Leo Varadkar, disse no domingo que um pacto entre o seu partido, o Fine Gael, e o Sinn Fein não está no radar, pois as políticas de ambos “não são compatíveis”. “Para nós, uma coalizão com o Sinn Fein não é uma opção, mas nós estamos dispostos a conversar com outros partidos”, disse.

Crise e Brexit

A eleição deste sábado 8 foi a terceira desde o dramático colapso financeiro de 2008 e seus resultados, sob muitos aspectos, refletem as consequências da crise no país nos últimos anos. A eleição de 2011 provocou a queda de popularidade da até então hegemônica do Fianna Fail, que tinha saído como maior partido em todas as eleições parlamentares desde os anos 1930. Seu lugar foi então ocupado pelo Fine Gael.

O país foi governado pelo FG com uma forte política de austeridade. Ao mesmo tempo em que o governo voltava suas atenções para o Brexit e para o acordo que definira o funcionamento da fronteira da República da Irlanda com a Irlanda do Norte após a saída do Reino Unido da União Europeia (UE), a população enfrentava sérios problemas domésticos.

A crise financeira levou a um colapso no sistema de moradia nacional, levando a um recorde no número de desabrigados – quase 10.000 estavam sem lar permanente em dezembro de 2019. Ao mesmo tempo, o setor de saúde também passa por graves problemas.

Com as eleições, os temas ganharam ainda mais relevância e a plataforma social liberal do Sinn Fein atraiu a atenção de eleitores jovens e trabalhadores

Com AFP

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