Um estudo publicado no Brazilian Journal of Psychiatry sugere que a mediunidade pode ter bases genéticas. A pesquisa foi coordenada pelo professor Wagner Farid Gattaz, do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da FMUSP, e realizada entre 2020 e 2021. O estudo comparou 54 médiuns com 53 parentes de primeiro grau que não apresentavam habilidades mediúnicas. Os participantes eram ligados à umbanda e ao espiritismo. Segundo Gattaz, alguns genes encontrados exclusivamente nos médiuns podem estar relacionados ao dom da mediunidade. A seleção dos participantes considerou médiuns reconhecidos pela precisão de suas predições, que praticavam a mediunidade regularmente e não cobravam por consultas. Os resultados revelaram quase 16 mil variantes genéticas exclusivas dos médiuns, impactando 7.269 genes. Esses genes estão majoritariamente ligados ao sistema imunológico e inflamatório, além de um relacionado à glândula pineal, historicamente associada à conexão entre mente e cérebro. O coautor do estudo, Alexander Moreira-Almeida, da Universidade Federal de Juiz de Fora, explicou que a comparação entre médiuns e seus familiares foi essencial para reduzir diferenças socioculturais e genéticas que poderiam influenciar os resultados. Os pesquisadores analisaram o exoma dos voluntários, parte do DNA que codifica proteínas e tem impacto direto na formação do organismo. A pesquisa contou com a participação de pessoas como Darcy Neves Moreira, 82 anos, coordenadora de reuniões em um centro espírita no Rio de Janeiro, que afirma sentir a influência dos espíritos desde os 18 anos. Outro participante, Roberto Lúcio Vieira de Souza, 66 anos, descobriu sua mediunidade na adolescência, após enfrentar sintomas inexplicáveis que o levaram a buscar respostas na umbanda. Gattaz destaca que não é necessário um conjunto específico de genes para ser médium. O estudo apenas indica candidatos a serem investigados em pesquisas futuras sobre as bases biológicas da mediunidade. Ele também liderou uma análise sobre a saúde mental dos médiuns, que mostrou que eles não diferem de seus parentes quanto à prevalência de transtornos mentais. No entanto, apresentaram maior pontuação em quesitos relacionados à sensopercepção, como a capacidade de ver ou ouvir o que outros não percebem. A pesquisa abre caminho para novas investigações sobre os aspectos genéticos da mediunidade, um fenômeno historicamente associado ao misticismo, mas que agora começa a ser explorado sob uma perspectiva científica.
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