Nosso Brasil… triste Brasil! Triste Ilha de Vera Cruz, gigante colosso acorrentado qual Gulliver em Lilliput… o que frustra mais – diz uma velha frase de efeito – não é tanto o impossível, mas o possível não realizado. E, em contrapartida, o mais degradante não é o ataque certeiro bem-conduzido, e sim a punhalada pelas costas… nosso Brasil, traído, reduzido à insignificância, humilhado e escarnecido pelos seus inimigos! Quem poderia imaginar que esta Nação gigante poderia chegar a tão baixo…?
No meio do bombardeio, no meio da tempestade. O povo brasileiro é um povo corajoso…? O que comemoramos no dia de hoje? Afinal, o que é independência – é meramente uma palavra que possa justificar a covardia institucionalizada? Independência é a possibilidade de se resfolegar na lama, humilhando-se e capitulando diante dos adversários? Afinal de contas, o hino nacional hoje tantas vezes entoado – “mas se ergues da justiça a clava forte / verás que um filho teu não foge à luta / nem teme, quem te adora a própria morte” – é letra morta? Uma mera formalidade, resquícios de um passado alheio ao nosso presente, no qual somos já incapazes de nos reconhecer?
Se o Hino Nacional fosse composto nos dias de hoje, poderíamos escrevê-lo sem corar de vergonha com a flagrante mentira? E, ainda – podemos cantá-lo hoje, sem que o rubor suba-nos à face? Algum dia, este hino já foi cantado com orgulho – vejam os soldados brasileiros em solo inimigo. O som dos bombardeios não foi capaz de abafar o brado das tropas brasileiras: ó Pátria amada, idolatrada, salve, salve! E que vergonha é essa que, hoje, o hino esteja completamente destituído do seu conteúdo, qual cadáver sem vida, qual porta de madeira imponente toda carcomida de cupins! Como poderemos olhar nos olhos do povo brasileiro que cumpriu a sua quota de heroísmo? Ser-nos-á possível fitá-los sem baixar os olhos de vergonha?
Acaso é impossível que uma Nação faça valer os seus anseios? Acaso é alguma coisa de extremamente difícil que um colosso sacuda o pó e levante-se com a força que tem por natureza (gigante pela própria natureza / és belo, és forte, impávido colosso / e o teu futuro espelha essa grandeza) para construir um futuro digno de si? Vergonha que vivamos como se não tivéssemos Fé. Vergonha que o Estado Brasileiro não guarde semelhança com o seu povo! Vergonha que o povo não se importe com a sua Pátria! Vergonha que esvaziemos de significado o Hino Nacional, e o entoemos hipocritamente, com a mesma negligência com a qual entregamos o Brasil aos seus inimigos! Vergonha, que pareça não haver aurora no horizonte, não haver luz no fim do túnel, não haver esperança à qual se aferrar.
Para os montes levanto os olhos: de onde me virá socorro? O meu socorro virá do Senhor, criador do céu e da terra (Sl 120, 1-2). Levantai-vos, brasileiros, recobrai o ânimo. O filho não foi criado para a lavagem dos porcos, a Terra de Santa Cruz não veio à existência para ser repasto de chacais. Neste 07 de setembro, dia da Pátria, levantemos nossa voz em prece pela Pátria Amada. A fim de que ela desperte. A fim de que ela possa, dos filhos deste solo, ser Mãe gentil. A fim de que possamos entoar de cabeça erguida o Hino Nacional. E o nosso Brasil amado faça valer a sua história, e a Santa Cruz que um dia nomeou esta terra possa ser levantada bem alto pelo nosso povo brasileiro.
*SARA MACEDO é escritora, poetisa e colaboradora deste site