Estávamos acostumados com o governo decretando emergência no semiárido nordestino, socorrendo a sua população com carros pipa, comandados pelo exército brasileiro.
Rios secos, terra rachada, animais mortos, lavoura perdida. Êxodo rural cantado e denunciado por Luiz Gonzaga – A triste partida – escrita por Patativa do Assaré, em 1965, que assim começa o lamento:
Meu Deus, meu Deus
Setembro passou
Outubro e novembro
Já tamo em dezembro
Meu Deus, que é de nós,
Meu Deus, meu Deus
Assim fala o pobre
Do seco Nordeste
Com medo da peste
Da fome feroz.
Para se ter uma ideia das duas regiões, Amazônia e Semiárido, vale a pena lembrar a ação do governo militar, quando de uma seca severa, abrindo frentes de trabalho no paraíso de águas fartas
Em 1970, o general-presidente Emilio Médici anunciou a construção da rodovia Transamazônica que atravessaria o país no sentido Leste-Oeste visando integrar e ocupar a Amazônia com migrantes nordestinos, flagelados pela seca e sulistas despossuídos de terras.
Hoje, 2024, 60 anos depois, o Homem mexeu na ambiência, desequilibrou as correntes atmosféricas, e tudo leva a crer que o mundo aquático, de águas correntes e riqueza ictiológica, está virando um outro bioma com acenos ou socorro, pela sua reversão.
Notícias de agora (17-07-2.024), dão uma ideia, num sucinto exemplo, o município Envira, cujo dados da defesa civil apontam que sete mil pessoas já foram impactadas pela seca dos Rios Taraucá, obrigando a prefeitura também decretar situação de emergência.
Imaginemos, pois, o nosso patrimônio úmido tropical com seus rios voadores deixando de circular pela atmosfera, não mais gerando umidade e nem dispersando por todo o continente sul-americano? Tampouco, as árvores frondosas que bombeiam as águas das chuvas de volta para a atmosfera, através da evapotranspiração e reduzem esse ciclo?
São alterações que refletem no sistema fechado da Mãe Natureza, com o Homem no epicentro da desordem ambiental:
Ø. Os fazendeiros que desmatam, sem respeitar o equilíbrio físico-hídrico do solo, tampouco sem a preocupação com os nichos ecológicos e, ademais, pondo em risco espécies de árvores milenares;
Ø. Os Garimpeiros que provocam a destruição dos solos, contaminam as águas com mercúrio e invadem as terras sagradas dos indígenas; e
Ø. E os prepostos do governo, muitos dos quais sem meios de combater os grupos malfazejos à Amazônia.
*Luiz Ferreira da Silva, 87, Engenheiro agrônomo e Escritor; pesquisador aposentado da CEPLAC/BA.