O ex-presidente da Bolívia, Evo Morales, acusou, neste domingo (30), o presidente Luis Arce, seu ex-aliado, de ter mentido “para o mundo” com um “autogolpe”, após a fracassada invasão militar da sede do governo. “Pensei que fosse um golpe, mas agora estou confuso: parece que foi um autogolpe”, disse Morales em seu programa de rádio dominical transmitido do departamento de Cochabamba. Morales foi um dos primeiros a alertar em suas redes sociais sobre o levante armado na última quarta-feira, quando tropas com tanques, lideradas pelo ex-comandante do Exército Juan José Zúñiga, cercaram o palácio presidencial. Mas “sinto, não sei se estou errado, que Lucho desrespeitou a verdade; ele nos enganou, mentiu, não apenas para o povo boliviano, mas para o mundo inteiro”, acrescentou o influente líder indígena em referência a Arce. Neste domingo (30), o governo classificou a declaração de Morales como “absolutamente condenável” e “inaceitável”.
“Dizer que o presidente mentiu ao povo e mentiu à comunidade internacional, por favor! Não se brinca com essas coisas […] somente por ambições de poder”, reagiu a porta-voz e ministra da Presidência, María Nela Prada, em entrevista à emissora estatal. Na sexta-feira, Morales já havia questionado a versão oficial dos planos golpistas de Zúñiga, mas dessa vez ele se desvinculou completamente do governo do homem que foi seu ministro da Fazenda durante os quase 14 anos em que esteve no poder (2006-2019). Os dois líderes disputam a liderança dentro do partido governista, com vistas à indicação para as eleições presidenciais de 2025. Apesar de estar inabilitado pela justiça para candidatar-se, Morales pretende disputar as eleições, enquanto Arce ainda não anunciou se buscará a reeleição. (JP)