Números mostram o atual premier com 71.52% dos votos, contra 28,48% de seu adversário; país deve enfrentar uma nova eleição geral em março
O Globo e New York Times
Primeiro-ministro Benjamin Netanyahu acende uma vela em celebração de Hanucá Foto: POOL New / REUTERS/22-12-2019
TEL AVIV — Envolvido em uma série de escândalos e questionado por adversários, o premier Benjamin Netanyahu conseguiu uma importante vitória nas primárias do Likud nesta quinta-feira, e deve seguir à frente da sigla até a eleição geral de março, a terceira em menos de um ano. Os outros dois pleitos, em abril e setembro, terminaram sem que nenhum partido conseguisse a maioria necessária para formar um governo.De acordo com pesquisa de boca de urna divulgada pela imprensa israelense, Netanyahu obteve 71,52% dos votos, contra 28,48% de seu adversário, o ex-ministro da Educação Gideon Sa’ar — veterano, mas pouco popular. Ao todo, 48% dos 116.048 eleitores filiados ao Likud votaram, uma abstenção que pode ser creditada ao mau tempo, ao recesso escolar e às celebrações do Hanucá.Tanto que, ao longo do dia, Netanyahu e Sa’ar fizeram apelos para que seus apoiadores enfrentassem a chuva e o vento para comparecer às seções eleitorais. Em postagens em redes sociais e comentários à imprensa, ambos insistiam que suas respectivas vitórias seriam fundamentais para garantir um bom resultado em março.Logo depois do fim da votação, Sa’ar foi ao Twitter agradecer “aos muitos amigos, voluntários e eleitores”, dizendo que eles mostraram “fé, bravura e determinação”. Seus aliados também consideram que os números não são exatamente para se lamentar.Poucos acreditavam na possibilidade de derrota de Netanyahu, denunciado por suborno, abuso de confiança e fraude, mas consideravam que um resultado superior a 30% dos votos seria uma vitória simbólica, posicionando-o como favorito para assumir o partido quando o premier deixar a liderança.Como a pesquisa ainda é preliminar e possui margem de erro de três pontos percentuais, em tese esse patamar pode ser atingido.Netanyahu ainda não se pronunciou.
Ataques em Gaza
Em um dos últimos atos de campanha na cidade costeira de Ashkelon, na quarta-feira, Netanyahu precisou ser retirado às pressas do palanque, após um alarme soar alertando o lançamento de um míssil da Faixa de Gaza. Segundo o Exército, um foguete foi interceptado pelo sistema de defesa Domo de Ferro e o premier voltou para o palco.Em represália, Israel realizou vários bombardeios em Gaza na manhã desta quinta-feira. Em nota, o governo culpou o Hamas, movimento islâmico que controla a região, afirmando que o grupo será “responsabilizado pelas consequências de suas ações contra civis israelenses”. Considerada uma organização terrorista por Israel, EUA e pela União Europeia, o Hamas não se pronunciou.Um incidente similar nas semanas que antecederam as eleições de setembro foi determinante para a operação israelense que culminou no assassinato de Baha Abu al-Ata, líder da Jihad Islâmica. O episódio gerou um intenso conflito de dois dias entre ambos os lados da fronteira.Mesmo que Sa’ar não tenha criticado Netanyahu ou mencionado o ocorrido, o incidente foi mencionado por rivais, como Benny Gantz, líder do partido de centro Azul e Branco, principal adversário do Likud nas eleições gerais. Segundo Gantz, a crise em Gaza é um “medalhão da vergonha” para a política de segurança do governo no sul de Israel.
Denúncias
Manter-se na liderança de Israel em março, especialistas apontam, deixa o premier mais bem posicionado para negociar um acordo com a Justiça — ele talvez pudesse evitar completamente um julgamento em troca da aposentadoria da vida pública. Ele também se apega à ideia de que uma ampla aliança de partidos religiosos e de direita poderia melhorar suas chances em um Parlamento com maioria disposta a lhe conceder imunidade parlamentar.Benjamin Netanyahu é acusado de garantir favores à principal empresa de telecomunicações de Israel em troca de cobertura positiva sobre ele e sua mulher, Sara, em um site de notícias controlado pelo ex-presidente da empresa. Outra acusação diz respeito ao recebimento de presentes de Arnon Milchan, um produtor de Hollywood e cidadão israelense, além do bilionário australiano James Packer.Ele também é suspeito de negociar um acordo com o jornal mais vendido de Israel, o Yedioth Ahronoth, para receber cobertura positiva em suas páginas, em troca de uma nova lei que impediria o crescimento de um outro jornal. Caso condenado em todas as acusações, pode receber uma pena de até dez anos de prisão